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Vivo e desenho


Yan Nicolas



Gosto de pensar que escrevo do mesmo modo que desenho. Como na escrita cursiva, que nada mais é do que o ato de desenhar as letras, mas mesmo aqui, no teclado do computador, escrevo pensando em desenho. No desenho me encontro na possibilidade do risco e do traço carregado de intenção e tensão. Com ele, posso evidenciar o processo através dos pontos e linhas sobrepostos, e o caminho se torna meio e fim. Desenhar e viver são para mim praticamente sinônimos, não vivo sem desenhar, desenho o que vivo. Vivo e desenho.


Com certeza, essa é a principal razão do porque escolhi traçar o meu percurso profissional na área das Artes Visuais. Recentemente apresentei o meu TCC no bacharelado, na habilitação em desenho na UFMG, e já tinha planejado anteriormente para seguir na continuidade de estudos em licenciatura, pois, sinto que o processo de ensino-aprendizagem está estreitamente ligado com as artes, onde carrega a sua potência criadora e transformadora, em seus diversos espaços que pode ocupar, proporcionado pelo momento de encontro e troca.


Ingressei na universidade em 2016, logo após terminar o ensino médio, seguindo nesse processo constante dentro do ensino formal, como estudante de escola pública. A última escola em que me formei fica no centro da cidade de Belo Horizonte, cidade em que nasci e vivo ainda hoje. Moro na mesma casa desde os dois anos de idade, a casa de minha avó, cresci sendo o irmão caçula entre dois irmãos mais velhos, dividindo o mesmo quarto até pouquíssimo tempo, e digo, não é um quarto grande. Minha casa fica na Regional Noroeste de BH, no bairro Nova Cachoeirinha. A minha trajetória artística é sempre marcada pelos encontros, que me impulsionam e causam atrito. Hoje tenho de forma consciente que as aprendências do meu fazer artístico começaram no momento em que o desenho passou a fazer parte do meu cotidiano, e de uma insistência desse fazer.


Nesta insistência do olhar, pensar e fazer desenhos, o corpo para mim ganha um grande protagonismo, é no momento da adolescência e o fortalecimento do meu senso crítico, que começo a observar as questões relacionais que permeiam a multiplicidade dos corpos em nossa sociedade. Foi me entendendo uma pessoa negra, para além dos estereótipos, o meu o ponto de partida para questionar as imagens e a sua criação de imaginários coletivos, do qual, tem o poder de aprisionar grupos em condições subalternas e marginais, mas, acredito também no poder da auto definição e ressignificação de sentidos e signos, através da imagem.



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